Tamanho do texto

Campeã olímpica participou de entrevista em um coletivo de mulheres e disse ver Tiffany com vantagens por ter se desenvolvido como homem. Papo rendeu debates e a jogadora usou o Instagram para falar mais sobre o caso

O caso Tiffany continua chamando a atenção e dividindo a opinião no vôlei, entre fãs do esporte e jogadoras. Muitas preferem não comentar, mas a bicampeã olímpica Sheilla falou sobre o assunto em uma entrevista para um coletivo de mulheres e também expôs sua opinião nas redes sociais. 

Leia também: Tifanny Abreu assina com o Bauru e é primeira trans da Superliga feminina

Caso Tiffany divide opiniões no vôlei
Divulgação/Vôlei Bauru
Caso Tiffany divide opiniões no vôlei


Em um podcast do "Dibradoras", Sheilla comentou que Tiffany, mulher trans que defende o Bauru no atual temporada da Superliga feminina, teria vantagens em quadra diante das companheiras e rivais. "Ela tem ainda corpo de homem por mais que os hormônios estejam agora compatíveis, tem formação de corpo de homem", falou a jogadora sobre o caso Tiffany . Em outros trechos, Sheilla cita a força de Tiffany, dizendo que é fácil notar que ela tem o vigor de um homem ao vê-la jogar. 

Logo a entrevista rendeu comentários e muitos criticaram a postura de Sheilla. 

Mudança de opinião

Não é a primeira vez que Sheilla fala sobre a atuação de Tiffany. Depois da entrevista, em seu perfil oficial no Instagram, ela comentou que mudou de opinião sobre o assunto. "Eu dei uma entrevista logo depois do Natal dizendo que eu era a favor da participação dela na Superliga feminina, mas que não podia opinar com profundidade porque não entendia do assunto, sobretudo a respeito de hormônios e da formação corporal. Depois, após ler a opinião de médicos, vi outro lado da história, que está na vantagem física que a Tiffany leva sobre as demais jogadoras, mesmo hoje controlando os hormônios. Então, me reposicionei. Disse que sou contra". 

Gente, estou vendo como suscitei um ódio incrível sobre o caso da Tiffany. Eu dei uma entrevista logo depois do Natal dizendo que eu era a favor da participação dela na Superliga feminina, mas que não podia opinar com profundidade porque não entendia do assunto, sobretudo a respeito de hormônios e da formação corporal. Depois, após ler a opinião de médicos, vi outro lado da história, que está na vantagem física que a Tiffany leva sobre as demais jogadoras, mesmo hoje controlando os hormônios. Então, me reposicionei. Disse que sou contra. Claro que precisamos buscar uma solução pra situação. Na entrevista, a Renata e a Roberta falaram em cotas, eu concordei que talvez seja a solução para não excluir ninguém. O esporte é sim um ambiente de inclusão social e vai continuar sendo. A Tiffany é pioneira nisso e ainda terão muitas discussões sobre o assunto. E este é meu posicionamento. Respeito opiniões contrárias e espero respeito tb.

A post shared by Sheilla (@sheillacastro) on


Sistema de cotas

Entretanto, ela mostrou que não é contra ter transexuais no esporte, mas defendeu que é preciso rever as opções para isso. Uma ideia, citada pelas apresentadoras do podcast, foi estabelecer cotas para os atletas trans atuarem nas competições. Assim, haveria espaço para todos no esporte feminino, tanto para as mulheres cisgênero quanto para quem tenha passado por uma transição, sem um competir pelo espaço do outro. Sheilla viu a proposta como uma boa solução.

Leia também: Recordes, aposentadorias, títulos: confira o que foi destaque no vôlei em 2017

Sheilla, ex-oposto da seleção brasileira feminina de vôlei
Rio 2016/REPRODUÇÃO
Sheilla, ex-oposto da seleção brasileira feminina de vôlei

Já na rede social, ela reforçou sua postura. "Claro que precisamos buscar uma solução pra situação. Na entrevista, a Renata e a Roberta falaram em cotas, eu concordei que talvez seja a solução para não excluir ninguém. O esporte é sim um ambiente de inclusão social e vai continuar sendo". 

Ela reconhece que a discussão ainda está longe do fim e apenas pediu respeito às diferentes opiniões. "A Tiffany é pioneira nisso e ainda terão muitas discussões sobre o assunto. E este é meu posicionamento. Respeito opiniões contrárias e espero respeito também". 

Gays no vôlei feminino

Mais um ponto da opinião de Sheilla rendeu polêmica. No podcast, antes da ideia das cotas, ela havia afirmado: "Imagina se todos os gays resolverem jogar a Superliga Feminina. Vai virar uma Superliga que vai tirar nosso espaço porque a gente não consegue competir com eles". 

No Instagram, diversos seguidores não gostaram do comentário e, mais uma vez, a ex-oposto da seleção brasileira se justificou. "O que quis dizer é que pode abrir brechas, sim, para vários gays, heteros, quererem participar do feminino no futuro. Tem gente que só pensa em levar vantagem. Não é o caso dela [Tiffany], eu sei disso e falei disso. Mas tem que ser muito bem estudado antes de liberar. É um assunto muito delicado por se tratar de uma pessoa", escreveu em resposta a um internauta. 

Leia também: Murilo assume nova função após 8 meses de suspensão por doping

Mais sobre o caso

O caso Tiffany ainda deve render. A jogadora foi liberada para atuar na Superliga feminina porque, para o Comitê Olímpico Internacional, a avaliação feita é a de nível de hormônios. Para se enquadrar no esporte feminino, Tiffany deveria ter um nível de testosterona abaixo de 10 nanomols por litro de sangue. Os exames da atacante apontam para apenas 0,2 nanomol, o que a torna regular para atuar. FIVB (Federação Internacional de Voleibol) e CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) seguem a determinação do COI, entretanto, a instituições internacional vão discutir novamente em breve uma possível reavaliação da legislação sobre a participação de trans no esporte.