Ele se chama Guilherme Fioravanti , tem 26 anos de idade, é lateral esquerdo e atua no Schaffhausen, modesto clube do futebol suíço. Nascido na cidade de São Paulo, o jogador brasileiro foge do padrão para o esporte: terminou os estudos, entrou em três faculdades, é vegano, reikiano, medita e pratica yoga.
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Para Guilherme, tudo começou muito tarde. Quando a maioria dos jogadores inicia sua trajetória nos clubes ainda bem novos, com 11 ou 12 anos de idade, o brasileiro só foi se arriscar na carreira com 18 anos de idade.
"Antes só joguei em clubes amadores do Brasil, até porque me dediquei a terminar os estudos em um colégio bom. Na minha cabeça ainda não tinha claro o que eu queria, até cheguei a entrar em três faculdades. Mas depois decidi que queria jogar futebol e surgiu a oportunidade de ir para Finlândia, onde eu já tinha ido com 15 anos para jogar um torneio", disse o atleta em entrevista exclusiva ao iG Esporte .
"Lá conheci um cara e, quando completei 18 anos, ele me chamou para fazer um teste no FC Honka. Fui passei e fiquei. Fiquei dois anos na Finlândia", relembra o lateral.
"Sou um pouco diferente do jogador tradicional, já fiz curso de reiki, de massagem, busco um paralelo com essa vida do futebol. Aprendi a falar seis línguas, coisa que o esporte me proporcionou. Sou vegano, medito, faço yoga. Posso dizer que tenho vontade de jogar em times maiores e depontar na Europa, mas também tenho vontade de voltar para o Brasil e ficar perto da família. Penso em buscar outras coisas na minha vida, não me contento com pouco", disse o jogador.
Guilherme Fioravanti ficou dois anos no futebol finlandês e depois rodou por outros clubes até chegar ao Schaffhausen, no começo de 2016. Ele atuou por Catanzaro (Itália), Real Valladolid (Espanha) e FC Muri (Suíça) no exterior, além de passagens rápidas por Nacional-SP, Portuguesa Santista, Barueri, Audax-RJ e Bangu.
"Sempre almejo voos maiores, então penso em buscar um time melhor, o sonho de todo atleta é jogar uma Champions League , por exemplo. Mas meu objetivo é buscar minha felicidade. Enquanto o futebol estiver me fazendo feliz, vou continuar. Não é pelo dinheiro, não é pelo status ou pela fama", avisou.
Aprendendo na Europa
Guilherme admitiu que aprendeu muito em sua experiência pela Europa. "Aqui na Europa o futebol é muito mais tático, no Brasil é mais técnico e tem o diferencial que é a habilidade, o pensamento rápido para dar o drible. Aqui isso já não existe muito, apesar do futebol de alto nível", contou.
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"No Brasil sou mais livre para atacar, posso subir, mas na Europa é mais difícil, o lateral tem que manter a linha de quatro, muito mais defensivo. Tive que aprender a marcar e ter isso na parte tática, aprendi a me posicionar", comentou o jogador.
Cadê o respeito?
Uma das coisas que Guilherme lamenta é imagem um tanto quanto ruim que os jogadores brasileiros têm na Europa atualmente. Para ele, os atletas verde-amarelos perderam um pouco o respeito em relação ao futebol.
"Não só pela queda de rendimento nos últimos Mundiais, mas também pelo crescimento das seleções europeias. Antes o jogador brasileiro chegava aqui e era muito mais respeitado, hoje já não. Pelo contrário, a imagem é até certo ponto ruim, de cara folgado, baladeiro, de que só quer curtir, de que não é disciplinado", avaliou.
Situação constrangedora
Na Finlândia, onde atuou por dois anos, Guilherme viveu uma situação para lá de constrangedora com um dos dirigentes do seu clube. "Ele marcou um jantar comigo. Eu estava lá há uns oito meses, então meu finlandês não era muito bom, mas conseguia falar alguma coisa. E o cara gostou de mim", contou o brasileiro.
O pior ainda estava por vir. O dirigente então "escalou" o jogador para ser seu tradutor com uma prostituta brasileira que havia contratado e que passaria alguns dias no país europeu.
"Ele contratou essa garota de programa brasileira, pagou passagem dela para Finlândia, alugou carro caro, fez passeio de barco com ela... e me levava junto. Ele falava em finlandês para mim e eu tinha que traduzir para ela. O cara falava umas besteiras, tipo que ela estava gostosa, que ia pegar ela de jeito. Eu olhava para ela e tentava traduzir. Eu lá no meio dessa situação", contou aos risos.
"Às vezes eu não entendia, eu não estava num nível tão bom de finlandês, então eu inventava para ela, pedia para ela dar um sorriso e pronto. Falava qualquer coisa para moça e pedia para ela sorrir", relembrou o atleta.
A culpa é das estrelas
Já no futebol suíço, Guilherme viveu uma outra situação curiosa e fez questão de contar alguns detalhes. "A gente tinha uma programação de treinamentos e mudou tudo da noite para o dia. Depois ficamos sabendo que o técnico ligou para o diretor dizendo que não teria mais treino", disse.
E por qual motivo? "A mulher do técnico tinha visto nas estrelas que não era para ter treino, as estrelas diziam que não era um bom dia para isso. E aí ele cancelou".
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"Um outro dia esse mesmo técnico chegou no treinamento dizendo que ninguém ia trabalhar, aí fomos para o meio da natureza. E tem relatos de outros jogadores falando que treinador mandou abraçar árvore e tudo mais", finalizou o jogador brasileiro , que tem muita história para conta da sua aventura lá fora, mas que fica para outras oportunidades.