Mascote da Chapecoense acompanha a chegada dos caixões no gramado da Arena Condá
Reprodução/Breno Fortes/Correio Braziliense
Mascote da Chapecoense acompanha a chegada dos caixões no gramado da Arena Condá

"Um ídolo não morre, vira lenda"; “Mereciam o mundo, ganharam o céu". As frases que estampam cartazes no entorno da Arená Condá, em Chapecó, representam a lembrança de um dia que jamais será esquecido. Há um ano, 71 vítimas partiram para Colômbia em uma viagem sem volta. Saíram de São Paulo e tinham como destino a cidade de Medellín, que seria palco da final da Copa Sul-Americana de 2016. A partida entre Chapecoense e Atlético Nacional nunca aconteceu, mas ficará para sempre na memória dos torcedores.

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Personagem da tragédia que dizimou jogadores da Chapecoense , comissão técnica, dirigentes e jornalistas, o coordenador de esportes da rádio Super Condá, Ivan Carlos Agnoletto, poderia ter sido mais uma das vítimas. Quis o destino que ele não embarcasse no voo 2933, da empresa boliviana LaMia, por conta de um documento de identidade antigo, que levou por engano ao aeroporto.

O imprevisto fez com que perdesse dois companheiros: Gelson Galiotto e Edson Luiz Ebeliny, conhecido com Picolé. "Meu nome estava na lista de passageiros, tinha credenciamento e tudo. Mas não embarquei, Deus me deu uma segunda chance. Na madrugada do acidente, recebi muitas ligações na minha residência", contou emocionado.

Confira fotos do último adeus na Arena Condá:

Desde o dia seguinte ao acidente aéreo, uma palavra tem acompanhado familiares e dirigentes da Chape: reconstrução. Um dos símbolos que traduz essa reestruturação é o Índio Condá, mascote do Verdão do Oeste. A história se confunde com a primeira casa do clube, que homenageia o líder da tribo dos Kaingang, Vitorino Condá.

Segundo a lenda, o cacique teria lutado para que seu povo tivesse direito à terra junto ao governo brasileiro, uma vez que os colonizadores que chegavam à região se apossaram das terras por meio de títulos de propriedade.

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Atualmente, a Aldeia Condá fica a aproximadamente 15 quilômetros do centro de Chapecó e seu nome é visto como sinônimo de união e paz. Valores que foram essenciais para reerguer o time que ganhou o coração dos brasileiros. O vice-presidente jurídico do clube, Luiz Antonio Palaoro, afirma que a gestão do clube foi "perfeita", em um ano que poderia ser de fracasso. "Em termos esportivos, fomos muito bem. Ganhamos o Catarinense, não passamos de fase na Libertadores por um detalhe e conseguimos nos manter na elite do Brasileiro, que era o mais importante", avaliou.

Disputa jurídica

A morte de funcionários da Chape, incluindo praticamente todo o elenco principal e comissão técnica, gerou dor, revolta, mas também disputas judiciais. As famílias das vítimas afirmam que houve falta de assistência por parte do clube. A reportagem procurou membros da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo da Chapecoense (Afav-C), que preferiram não se pronunciar “em respeito ao luto e à dor das famílias nessa semana difícil”.

O responsável jurídico da Chapecoense reconhece que há ações judiciais em curso, mas nega que tenha havido negligência por parte do clube. “Pagamos os seguros de todos os funcionários do clube, incluindo jogadores. As famílias dos atletas receberam 28 salários mínimos, proporcionais ao vencimento assinado em carteira, além do seguro da CBF. No caso dos demais empregados, houve o pagamento do seguro coletivo”, explicou.

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Além disso, o dirigente garantiu que jamais passou pela cabeça fechar as portas do clube. “A Chape é gigante. Conseguimos nos reerguer e assim continuaremos. Desistir jamais foi um hipótese”, revelou.

Investigações

A principal frente de investigação brasileira em relação ao acidente com o avião da LaMia foi conduzida pelo MPF (Ministério Público Federal), em Chapecó. O órgão concluiu que não houve negligência ou imprudência por parte da Chapecoense na contratação da companhia e que também não foi identificado qualquer indício de que tenha havido pagamento de valor indevido ou outro interesse escuso para fechar o contrato.

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Avião da LaMia que caiu com a Chape

Nesta terça-feira, o procurador federal Carlos Humberto Prola Júnior confirmou haver suspeitas de que a LaMia, na verdade, seja efetivamente controlada por uma família na Venezuela, apesar de ter sede na Bolívia. Prola também apontou que a atuação da Justiça e das autoridades brasileiras no caso é limitada por uma questão de jurisdição. Como o avião partiu da Bolívia e caiu na Colômbia, o Brasil não tem atribuição para processar eventuais responsáveis pela tragédia.

As suspeitas de que os verdadeiros donos da LaMia são venezuelanos, indica Prola, também foram observadas na investigação. Isto porque o MPF teve acesso a documentos que apontam que a venezuelana Loredana Albacete negociou, em nome da companhia aérea, o fretamento da aeronave com a Chapecoense. Loredana é filha do ex-senador venezuelano Ricardo Albacete, dono do avião. 

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