A primeira contratação do Palmeiras para o Campeonato Brasileiro começou entre os titulares e fez o primeiro gol do time de Cuca no torneio, sábado, contra o Atlético-PR. E para deslanchar, o jovem Róger Guedes usa os ensinamentos do seu pai, Válter, conhecido como Neco, como inspiração.
Neco nunca atuou no futebol profissional. Fez a vida como jogador e professor de escolinhas infantis na várzea do Rio Grande do Sul. Em Ibirubá, a quase 300 quilômetros de Porto Alegre, debaixo da arquibancada do Estádio Carlos Jacob Simon, ele criou os dois filhos e transmitiu a eles a sua paixão pelos campos. Hoje pode dizer que realizou seu maior sonho: ver um deles vestindo a camisa de um grande clube do Brasil.
Róger, caçula da família Guedes, tem 19 anos chegou do Criciúma em abril. Assinou por cinco anos e logo na sua estreia, contra o São Bernardo nas quartas de final do Paulistão, deu passe para gol de Gabriel Jesus. Na partida seguinte, foi titular contra o Santos na Vila Belmiro. E assim pretende seguir já nas primeiras rodadas do campeonato nacional.
“Graças ao meu pai hoje eu estou aqui no futebol. Sempre lutou por mim e acreditou no meu potencial. Minha mãe (Marisa) e meu irmão também, desde pequeno, me apoiam”, diz Róger em entrevista publicada na edição de maio da Revista Palmeiras, distribuída a sócios Avanti. Ele sempre foi aliado da família na rotina diária nos campos gaúchos desde seus primeiros anos.
“Eu cortava grama do campo do Vila Nova (time amador que usava o espaço do Grêmio Esportivo Ibirubá). Morei debaixo das arquibancadas. Praticamente nasci lá. O futebol é a minha vida desde sempre”, conta. “O Róger foi gandula e me acompanhava em todos os jogos do Vila Nova, só pensa em futebol desde guri. Ele e o irmão”, lembra Neco.
Em 2011, o Criciúma apareceu na vida da família Guedes. “Dei a volta a por cima quando fui para lá”, lembra Róger. Na base do time catarinense teve as primeiras grandes oportunidades de mostrar seu valor até estrear como profissional na reta final do Brasileirão de 2014.
Já rebaixado, o Criciúma lançou atletas jovens nas últimas partidas na elite. Róger se destacou logo no primeiro jogo, contra o Flamengo. No campo de defesa, arrancou pela lateral, deixou marcadores para trás e tocou na medida para Cléber Santana anotar um belo gol. Contra o Corinthians, em Itaquera, marcou de calcanhar. Foi a senha para se firmar no clube catarinense em 2015, e no início de 2016 despertar o interesse do Palmeiras.
“Não sei se vou ficar cinco anos aqui, mas quero mostrar meu melhor. Se daqui a um ano ou dois estiver em outro time vai ser porque fiz bem meu papel pelo Palmeiras e vou agradecê-lo por tudo.”
Concorrência na bola parada
A dedicação de Róger nos primeiros dias de Palmeiras chama a atenção de quem acompanha a equipe. Ele tem sido o último a deixar o campo após as atividades. Treina faltas, pênaltis e gosta de aprimorar finalizações. Tudo isso para mostrar a Cuca e à comissão técnica que pode entrar na fila para os lances de bola parada.
“Eu gosto muito de cobrar pênalti e falta, já fazia isso no Criciúma. Se tiver chances também espero bater. Sei que tem o Alecsandro, o cobrador no momento, o Gabriel Jesus, Cleiton Xavier nas faltas, mas gosto de treinar bastante para mostrar que sei bater bem na bola”.
A expectativa no garoto estava clara nas últimas partidas do Palmeiras no Paulistão. Agora a prova de fogo é o Brasileirão. “O Cuca já falou que confia muito no Palmeiras no Brasileiro e eu quero fazer parte dessa história.” O começo é promissor.
Nada de bad boy
A primeira impressão quando se vê Róger Guedes sem camisa é a de que se trata de “bad boy”. Tatuado nos braços e no peito, carrega o estereótipo do boleiro desta década. Parece marrento até. Mas a realidade passa bem longe disso. O novo atacante do Palmeiras é um sujeito bem pacato.
Seu pai diz que o jogador nunca deu trabalho em casa. O futebol sempre foi seu único brinquedo, seu único vício. As tatuagens vieram como distração e a primeira foi feita só depois dos 15 anos, com autorização de Neco e Marisa. “Não queria que ele fizesse tatuagem. Mas nunca deu trabalho e quando falou que a primeira seria com o meu nome e o da mãe dele, eu deixei”.
A partir dali não parou mais. Hoje ele tem o braço esquerdo todo tatuado e o direito também praticamente todo preenchido por imagens, a maioria remetendo à família e à religião.
“Eu sempre gostei de tatuagens. Queria fazer desde pequeno, mas meu pai nunca deixou. Fiz a primeira com 15 anos. Logo em seguida fiz uma santa, depois o rosto de Jesus e ele foi liberando. Somos muito católicos. Depois não pedi mais. Ele não gostou tanto, mas eu cresci, né? Agora leva na boa”, brinca.
Leia
+ Dudu lamenta tempo fora do time e já projeta retorno aos gramados
+ Luan conversa com Cuca, se dispõe a jogar na lateral e aguarda chance
As últimas tatuagens foram para a esposa Sindi, com quem casou-se há um ano, e para o filho Ryan, de quatro meses. O casal está junto desde quando Róger tinha 14 anos. Ele jura que não quis deixar a vida de homem sério para ter mais liberdade como outros garotos da sua idade.
“Sempre fui caseiro, nem sei o que é balada, um show. A maioria dos colegas da minha idade quer aproveitar, todo mundo mais jovem quer ir para a noite, mas nunca gostei mesmo. Nunca bebi, fumei, não sou de festa, não gosto dessas coisas. Tenho vida tranquila com a minha esposa, com meu filho. Meu foco desde pequeno é 100% no futebol e hoje aqui no Palmeiras”, garante.